O poder da anadiplose na construção do sentido
Apesar de ser mal-vista por algumas pessoas, a repetição tem um papel estilístico fundamental.
Nosso cérebro primitivo adora padrões.
Assim, ele não se incomoda de ver a mesma palavra várias vezes. Desde que essas repetições apareçam no momento correto.
É por isso que diversas figuras de linguagem baseiam-se na reiteração de termos.
Uma delas é a anadiplose.
Ela consiste na repetição de uma palavra na frase ou verso que imediatamente se lhe segue.
Anadiplose na prática
Podemos ver dois exemplos no texto do Matheus Bazzo, fundador Minha Biblioteca Católica e da Limine.
Vejamos:
"Esse personagem, em um gesto ao mesmo tempo singelo e monumental, sugere que o Sr. Badii experimente a doçura das cerejas como uma razão para valorizar a vida. A doçura da fruta, nesse contexto, torna-se uma metáfora para a beleza escondida nos detalhes."
Percebeu ali a repetição do substantivo "doçura"?
Além de criar um efeito coesivo entre as duas frases, a recorrência do termo reforça a importância da palavra como um tópico central que guia o sentido das frases.
Vamos conferir outro exemplo:
"Então esse breve momento que registro aqui pode adquirir ares de eternidade. Porque esse momento é eterno, preciso me lembrar disso."
Combinação
Aqui há um detalhe adicional que faz toda a diferença. Bazzo combina duas figuras de linguagem.
Primeiro, a anadiplose (repetição da palavra "momento").
Ela é seguida de uma antítese (união de ideias opostas), que é caracterizada pelo uso dos adjetivos "breve" e "eterno".
A união dessas ferramentas retóricas torna o texto muito mais memorável, reforçando a transcendência de um instante singular.
A palavra se repete, e ao se repetir, revela seu peso.